sábado, 9 de dezembro de 2017

FICHAMENTO: SÔNIA WEIDNER MALUF - CORPO E CORPORALIDADE NAS CULTURAS CONTEMPORÂNEAS: ABORDAGENS ANTROPOLÓGICAS

FICHAMENTO

MALUF, Sônia Weidner. Corpo e Corporalidade nas Culturas Contemporâneas: Abordagens Antropológicas. Esboços: Revista do PPG História da UFSC, n. 9, 2001.

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A autora, Sônia Weidner Maluf, possui formação acadêmica jornalística, mestrado e doutorado em antropologia e pós-doutorado em Ciências Sociais.


O artigo aponta e discute as raízes históricas e culturais da construção do corpo e da corporalidade. A partir daí, destaca-se as visões dualistas, entre corpo e espírito e natureza e cultura, desta construção. Da mesma maneira, apresentam-se as diferentes concepções de corpo e linguagem corporal em experiências variadas, como, religiosas, de culto ao próprio corpo, de guerra e de trabalho, e nos mostra uma inquietação que se compreende pela curiosidade em saber se o corpo é algo além de um simples objeto de uma construção cultural. O objetivo do estudo centra-se em retratar abordagens do corpo que adotam este não apenas como objeto da cultura receptor de sentidos e sim como produtor de sentidos que dispõe de diligência própria.
            Com isso, parte-se de algumas abordagens antropológicas que admitem o corpo como uma construção social e cultural e não como um dado natural. Por conseguinte, as ideias do sociólogo e considerado o pai da antropologia francesa, Marcel Mauss, são apresentadas. Segundo Mauss, o corpo é um objeto da reflexão antropológica e sociológica e ele tenta mostrar as dimensões sociais do corpo, de sua construção, e as variedades de representações sociais a ele ligadas. Outros pensadores como Robert Hertz, um dos colaboradores de Émile Durkheim, pastor e etnólogo francês, Maurice Leenhardt, são mencionados. Hertz aponta uma notória reflexão sobre a relação entre comportamento corporal e representações coletivas. Já Leenhardt, ao estudar a sociedade canaque, na Melanésia, mostra variadas noções etnográficas de pessoa, mito, corpo e cultura.
            Doravante, salienta-se a relevância do método comparativo antropológico que nos possibilita uma melhor compreensão de fenômenos culturais. Seguindo o mencionado método, temos o trabalho, realizado por quatro estudiosos e publicado em 1979, chamado “A Construção da Pessoa nas Sociedades Indígenas Brasileiras”. Estudo este que aborda a percepção das sociedades ameríndias que concebem o corpo como um instrumento que articula sentidos e significados cosmológicos, como matriz de símbolos e como objeto do pensamento que é fabricado ou moldado durante toda a trajetória de vida de um indivíduo. Posteriormente, é analisado o paradoxo entre as concepções hegemônicas de sociedades ocidentais urbanas, que adotam o corpo como totalmente centrado na noção de indivíduo, e o ponto de vista das sociedades indígenas, que em relação ao corpo está intimamente ligado a uma noção de ente inacabado e em constante construção por meio dos “habitus”, palavra cunhada pelo sociólogo francês, Pierre Bourdieu, e que significa, grosso modo, o conjunto de maneiras de pensar e agir que se incorporam ao longo da trajetória do indivíduo no mundo social.
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          Destarte, retoma-se a questão inicialmente abordada no texto que indaga a respeito da autonomia concedida ao corpo ao pensá-lo como possuidor de uma agência própria e produtor de cultura. Por fim, parece que o paradoxo existente entre a antropologia e corpo não foi resolvido, a despeito de ter sido elucidado. Dado que, ao adotarmos o corpo como uma constituição histórica cultural o separamos como sendo um acontecimento peculiar e independente. Maluf conclui que, ao materializarmos o corpo como sujeito, estamos diante de uma nova inquietação: quem é esse sujeito? E para se discutir tal dúvida é preciso associar o debate a respeito do corpo e da corporalidade a uma noção de pessoa e de suas peculiaridades culturais. 

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